Especialistas em saúde mental na Semana de Educação da BYU falam sobre ansiedade, perfeccionismo, TOC religioso e depressão

O Espírito da verdade “não nos intimida”, disse Debra Theobald McClendon, uma psicóloga clínica licenciada, aos participantes da Semana de Educação da BYU. “O Espírito da verdade não usa as táticas de Satanás.”

Em uma aula no dia 18 de agosto sobre distinguir o Espírito diante da ansiedade, do perfeccionismo tóxico e do TOC religioso, McClendon testificou que os sentimentos de confusão, culpa e condenação não vêm de Deus.

“É somente por meio de nosso Salvador Jesus Cristo que seremos salvos”, disse ela. “Nosso Pai não está interessado em encontrar algum novo motivo para nos desqualificar da salvação eterna.”

Ela citou Élder Ronald A. Rasband, do Quórum dos Doze Apóstolos: “Quando nosso Pai Celestial disse ‘esta é minha obra e minha glória: Levar a efeito a imortalidade e vida eterna do homem’, Ele estava falando de todos os Seus filhos — de vocês particularmente.”

Partindo de uma perspectiva cognitiva, estes princípios religiosos são úteis, mas, por fim, disse ela, é importante buscar tratamento para lidar com a ansiedade e outros problemas de saúde mental.

McClendon foi uma dos vários profissionais santos dos últimos dias que ensinou sobre a saúde mental a partir de diversos pontos de vista durante a Semana de Educação da BYU, realizada de 16 a 20 de agosto.

Participantes vão para outras classes durante a Semana de Educação da BYU em Provo na terça-feira, 17 de agosto de 2021.
Participantes vão para outras classes durante a Semana de Educação da BYU em Provo na terça-feira, 17 de agosto de 2021. Credit: Wendy Wilson

Ansiedade, perfeccionismo tóxico e TOC religioso

McClendon explicou que as pessoas que sofrem de ansiedade generalizada “têm uma distorção sistemática dos processos envolvidos na coleta de informações, percepção, armazenamento e recuperação de informações”. Elas acabam se lembrando das coisas de maneira diferente de alguém que não sofre de ansiedade.

“As pessoas com ansiedade generalizada disponibilizam seletivamente seus recursos de atenção para informações relacionadas a ameaças”, disse ela. Seus sistemas nervosos são ativados para anteciparem possíveis situações de ameaças, e mobilizarem energia para que possam agir, caso seja necessário.

“Elas sentem que precisam escapar. Portanto, o que elas querem fazer é sair correndo. O problema é que a fuga reforça a ansiedade, fazendo com que seja mais difícil lidar com a situação da próxima vez. E, a partir daí, ela se torna insuportável.”

Em vez disso, comentou, “elas devem aceitar sua ansiedade. Elas devem lidar com a situação, e descobrir que não é ameaçadora.”

Algumas pessoas com ansiedade crônica podem ter problemas com a confusão espiritual. Embora a ansiedade provoque sentimentos de preocupação, incômodo e agitação, os sentimentos vindos do Espírito são calmos, “mesmo com sentimentos de dissonância”, disse McClendon.

A ansiedade é voltada para o futuro e se torna cada vez mais intensa e confusa, mas o Espírito diminui o desconforto com o arrependimento e a paz.

Para muitas pessoas, o perfeccionismo tóxic,o ou o transtorno obsessivo-compulsivo religioso, também conhecido como escrupulosidade, interrompe a capacidade de acessar e sentir a graça do Salvador. Viver o evangelho se torna algo que é feito por medo ou punição, e Deus é visto como um ditador rígido, explicou ela.

Ela mencionou o discurso de Presidente Russell M. Nelson da conferência geral de outubro de 1995, “Perfeição incompleta”, ao explicar que o termo “perfeitos” em Mateus 5:48 não significa “estarmos livre de erros”, mas, sim “alcançarmos um objetivo distante”.

Isaac Beck e Lucas Beck sentam no chão olhando para seus telefones enquanto outros alunos caminham para as aulas da Semana de Educação da BYU na terça-feira, 17 de agosto de 2021.
Isaac Beck e Lucas Beck sentam no chão olhando para seus telefones enquanto outros alunos caminham para as aulas da Semana de Educação da BYU na terça-feira, 17 de agosto de 2021. Credit: Wendy Wilson

McClendon forneceu uma visão geral de tratamentos específicos para a ansiedade, incluindo terapia cognitiva-comportamental e tratamentos baseados em exposição.

A terapia cognitiva-comportamental se concentra em mudar a maneira como a pessoa pensa, trabalhando para remover distorções cognitivas, tais como a polarização, maximização ou minimização, e personalização ou culpa. Isso pode ocorrer por meio do diálogo e da reflexão. Os tratamentos baseados em exposição usam o confronto sistemático e previsível de estímulos temidos. Em outras palavras, “enfrente o medo e você o derrotará”.

O elemento principal do tratamento é descobrir o que funciona melhor para o indivíduo e suas ansiedades. “Se a pessoa receber o tratamento certo, ela poderá progredir da maneira que deseja”, disse ela.

Quatro Recursos para combater a depressão e a ansiedade

Steven Eastmond, um assistente social clínico licenciado, iniciou sua aula, intitulada “Liberte-se da depressão”, afirmando que, em 2017, aproximadamente 17,3 milhões de norte-americanos sofreram pelo menos um episódio depressivo grave com duração de duas semanas ou mais, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos [artigo em inglês].

Élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, disse: “Presto testemunho do dia em que nossos entes queridos que sabemos que tiveram deficiências na mortalidade se erguerão diante de nós glorificados e grandiosos, admiravelmente perfeitos em corpo e mente.. … Até que chegue aquela hora, quando o dom perfeito de Cristo for evidente para todos nós, oro para que vivamos pela fé, perseverando na esperança e sendo ‘compassivos’ uns com os outros.”

“Hoje”, disse Eastmond, “espero lhes dar essa esperança.”

Ele apresentou quatro recursos práticos para ajudar as pessoas com depressão ou ansiedade.

1. Equilibrem suas balanças 

Enquanto Laman e Lemuel insistiam no negativo, Néfi era “realístico”, disse Eastmond. Ele não apenas reconheceu que eles “passaram por muitas aflições no deserto”, mas também que receberam “grandes bênçãos do Senhor” (1 Néfi 17: 1-2). Em outras palavras, “ele equilibrou sua balança”.

Um exemplo da vida real pode ser um pai que está tendo dificuldades com um adolescente. Um lado da balança poderia ser “ele me culpa por tudo”, “ele diz que me odeia” e “ele não respeita o que lhe ensinei”. O outro lado da balança pode ser “ele faz muitas coisas da maneira correta”, “ele ainda é um adolescente” e “ainda tenho tempo para criá-lo”.

2. Reformulem 

Reformular significa olhar para uma situação de modo a enxergar além do óbvio e incluir as alternativas positivas. Uma pergunta a se fazer é: “Isto é um problema que estou enfrentando, ou uma oportunidade?” É preciso ter uma mudança de perspectiva, disse Eastmond.

A ideia “seja feliz onde você está, mas não se contente em ficar lá” é um outro exemplo de reformulação.

3. ‘O que mais é real?’

A pergunta frequentemente citada, “O copo está meio cheio ou meio vazio?” pode ser enganosa. Como o copo contém tanto água quanto ar, alguém poderia dizer que está sempre cheio. “Às vezes, queremos olhar para as coisas como se elas fossem isto ou aquilo. Mas sempre há outra maneira. Sempre há mais do que podemos levar em consideração”, disse Eastmond.

Evitem pensar “deveria ter”. Isso pode levar à depressão. “A única coisa que podemos fazer com o passado é aprendermos com ele, mas esse é um comportamento do presente”, disse Eastmond. Evitem pensamentos do tipo “e se”. Isso pode levar à ansiedade. “A única coisa que podemos fazer com o futuro é nos prepararmos para ele, mas esse é um comportamento do presente.”

Em vez disso, perguntem: “O que é real agora?” Concentrem-se no presente. O adversário não quer que as pessoas usem seu presente com eficácia e eficiência.

4. Levem uma vida leve 

Não levem a vida muito a sério, disse ele. Tenham um senso de humor e aprendam a rir. “E escolham não se ofenderem facilmente.”

O que o povo de Alma e a história da Primeira Visão ensinam sobre o gerenciamento da ansiedade

David T. Morgan, um psicólogo licenciado, enfatizou o princípio encontrado em Doutrina e Convênios 88:63: “Achegai-vos a mim e achegar-me-ei a vós; procurai-me diligentemente e achar-me-eis; pedi e recebereis; batei e ser-vos-á aberto.”

Em outras palavras, quando se trata de lidar com os desafios da saúde mental, “Nós agimos primeiro, e Ele depois. … As bênçãos vêm quando prosseguimos com fé, em vez de simplesmente esperarmos que algo aconteça”, disse Morgan.

Ele usou as histórias do povo de Alma no Livro de Mórmon e da Primeira Visão de Joseph Smith para ilustrar esse princípio e outras lições sobre o gerenciamento da ansiedade.

O povo de Alma “andou retamente perante Deus” e viveu em amor, harmonia e paz (ver Mosias 18). Eles eram prósperos; não obstante, o Senhor julga conveniente “castigar seu povo; sim, ele prova sua paciência e sua fé” (Mosias 23:21).

“A Primeira Visão”, 1934, de Minerva Teichert, que era membro da Igreja, mostra um momento chave da Restauração.
“A Primeira Visão”, 1934, de Minerva Teichert, que era membro da Igreja, mostra um momento chave da Restauração. Credit: Cortesia do Museu de Arte da Universidade Brigham Young

Um exército de lamanitas apareceu, e eles ficaram atemorizados. Após Alma os incentivar a se lembrarem de Deus e de Sua promessa de libertá-los, “eles reprimiram os seus temores” (Mosias 23:27).

Quando foram submetidos ao cativeiro por Amulon e sofreram consideravelmente, o Senhor veio até eles em suas aflições e os fortaleceu para que pudessem carregar seus fardos (Mosias 24: 10-16). Então, Ele os ajudou a saírem do cativeiro.

A experiência do povo de Alma pode ensinar as seguintes lições sobre o gerenciamento da ansiedade, disse Morgan:

  • “A retidão não impede necessariamente o sofrimento temporal.”
  • “O alívio da aflição requer ação de nossa parte.”
  • “Alguns fardos podem perdurar, mas todos serão aliviados no momento certo.”

Quando Joseph Smith, de 14 anos de idade, se ajoelhou em um bosque para orar, ele foi imediatamente “apoderado por uma força que o dominou por completo”. Uma densa escuridão se formou. Ele não conseguia falar.

Então, disse Joseph em sua história, “usando todas as forças para clamar a Deus” e “no momento exato que estava prestes a sucumbir ao desespero”, ele viu uma coluna de luz (Joseph Smith — História 1:15-16).

Morgan disse: “Em meio àquela situação terrível, ele diz: ‘Vou fazer tudo que puder, tudo que sei, para sair dessa’… . E, às vezes, o Senhor nos leva ao limite, antes de nos libertar.”

Morgan mencionou o homem que pediu a Jesus para expulsar um espírito maligno de seu filho. “Eu creio, Senhor!”, disse o homem, “ajuda a minha incredulidade” (Marcos 9:24). Nas palavras de Élder Holland, “sejam fiéis à fé que vocês já têm”.

A história da Primeira Visão pode ensinar as seguintes lições sobre o gerenciamento da ansiedade, disse Morgan:

  • “Devemos exercer o máximo de esforço que pudermos.”
  • “Às vezes, a ajuda celestial leva tempo para chegar, mas devemos persistir.”
  • “Todas as fraquezas podem ser eliminadas pelo poder do Salvador.”

“O ‘podem’ aqui é importante”, disse ele, referindo-se ao último item. “Não caiam na mentira de que isso está além de Seu poder. Nada está além de Seu poder. Ele sabe disso. Vocês também devem saber disso. Testifico que estas coisas são verdadeiras.”

 

Fonte:
https://www.thechurchnews.com/pt/fe-viva/2021-08-28/lideres-veteranos-elder-whitney-clayton-irmao-gary-porter-conselheiros-presidencia-coro-tabernaculo-21318/

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