A simplicidade que vai além da complexidade
O que fazer quando suas dúvidas parecem enfraquecer sua fé?
O artigo a seguir é um trecho do livro “A fé não é cega” escrito pelo Élder Bruce C. Hafen e sua esposa, Marie K. Hafen. “A fé não é cega” oferece novos conceitos e ferramentas que ajudarão você a aprender com experiências difíceis, em vez de se sentir desiludido ou desencorajado por elas. Este livro reconhece as questões complicadas do evangelho, mas orienta-o com clareza e suavidade por meio dos passos necessários para trabalhar a complexidade, desenvolver um testemunho e preenchê-lo com a fé que vem do conhecimento de Deus.
A história de Holly apresenta o conceito principal do livro.
Aos 18 anos, Holly era extremamente ativa na Igreja. Então, alguém a convenceu de que certa doutrina estava errada e isso a afastou tanto para fora de seu curso, que ela renunciou aos seus convênios como membro da Igreja. Alguns anos depois, sua colega de quarto na faculdade estava recebendo lições missionárias. Durante aqueles momentos, seu coração foi tocado e ela decidiu orar pela primeira vez em anos.
Assim que disse: “Pai Celestial”, ela começou a chorar, sentindo uma terna ligação com o Senhor que passou a chamar de “proximidade”. À medida que esse sentimento de proximidade crescia, sua teimosia se transformava em confiança, e eventualmente, Holly foi batizada novamente. Ela estava encontrando a simplicidade que vai além da complexidade. Sua raiva se transformou em confiança. Quando alguém a questionou: “o que aconteceu com o assunto que a deixava tão incomodada?”. Ela pensou e respondeu: “Eu confio Nele. Ele sabe o que faz”.
A simplicidade que vai além da complexidade
No capítulo dois do livro, “A simplicidade que vai além da complexidade”, o casal Hafen fala sobre “a lacuna” entre o real e o ideal, que encontramos quando nos deparamos com dúvidas e perguntas. Como Holly descobriu, essa lacuna pode afetar nossa fé e nossas crenças negativamente.
O casal Hafen compartilha, “com o passar do tempo, nossa experiência de vida real regularmente traz uma nova dimensão — a consciência crescente de uma lacuna entre o que é real e o que é ideal, entre o que acontece e o que deveria acontecer. Inicialmente, descobrimos, essa lacuna quando percebemos que algumas coisas sobre nós ou sobre outras pessoas não são aquilo que pensávamos que eram. Por exemplo, à medida que crescemos, descobrimos que nossos pais e líderes são humanos e às vezes cometem erros. Ou aprendemos novas informações sobre a história da Igreja ou suas diretrizes. Ou talvez oramos por ajuda e as respostas não chegam quando as esperamos. Os missionários sentem esse vazio entre o idealismo natural ensinado no CTM e as realidades da vida no campo missionário, as dificuldades com uma nova língua, um novo companheiro e decepções com pesquisadores ou amigos da Igreja.
Quando nos encontramos nessas circunstâncias, pode ser difícil entender o porquê de algumas situações, crenças ou comportamentos de outros membros, e isso resulta em um sentimento de incerteza”.
Em seguida, o casal Hafen apresenta um modelo de três estágios que nos ajudará a crescer e aprender por meio de nossas experiências com o vazio, assim como Holly fez. O modelo é baseado na perspectiva de um distinto juiz americano, Oliver Wendell Holmes. Ele disse: “Eu não daria nada pela simplicidade deste lado da complexidade. Mas, eu daria minha vida pela simplicidade do outro lado da complexidade”.
1. A simplicidade deste lado da complexidade
Nesta fase, vemos uma fé que se baseia em uma crença inocente, idealista e não testada. Os Hafen dizem que o desafio para aqueles que “se apegam à simplicidade inocente e idealista é que sua perspectiva pode não ter encontrado a realidade do que Holmes chama de “complexidade”.
Há dois tipos de pessoas nesta fase, aquelas que simplesmente não vêem o vazio entre o real e o ideal e, portanto, não estão cientes das diferenças que existem entre ambos, e aqueles que decidem ignorar esse vazio, conscientemente ou não.
“Quando não vemos o vazio ou apenas nos concentramos no ideal sem prestar atenção ao real, nossa perspectiva não tem profundidade. Se este é o nosso paradigma, nossa fé pode ser cega e superficial”.
Nossa fé exige que aprendamos a enfrentar aquelas realidades que nos causam desconforto.
2. A complexidade, a lacuna entre o real e o ideal
Passar para a próxima etapa envolve enfrentar o conflito e a incerteza. Começamos a ver que a realidade pode ser diferente do que pensávamos ou como a tínhamos idealizado.
Os Hafen explicam que, para amadurecer espiritualmente, é imprescindível enfrentar esses conflitos.
“Somente ao vermos tanto o real como o ideal poderemos enfrentar o vazio de forma construtiva. Se não lutarmos com a frustração que surge ao enfrentarmos com coragem as dúvidas que encontramos, nos faltarão as raízes profundas da maturidade espiritual. Se não enxergarmos os problemas existentes, não poderemos ajudar a resolvê-los.
Aceitar essa complexidade não significa perder-se nela; não devemos permitir que o ceticismo assuma o controle de nossas vidas. Também não significa deixar completamente de lado a visão ideal que tínhamos sobre um determinado assunto.
A capacidade de reconhecer a ambiguidade é um passo importante em nosso desenvolvimento espiritual, mas não é uma forma final de conhecimento, é apenas o começo”.
Não devemos deixar que nossas dúvidas nos roubem as verdades que já conhecemos, assim como devemos ter cuidado com aqueles que dizem ter encontrado “liberdade” em seu ceticismo.
Por exemplo, as pessoas que se deleitam demais com as ferramentas da complexidade cética às vezes as testam em uma sala de aula da Igreja ou em conversas com outras pessoas. Elas adoram interrogar os desavisados, procurando a bolha idealista de alguém que flutua por aí para poder explodi-la com seu brilhante alfinete de ceticismo. Mas quando estouramos essas bolhas, podemos perder a harmonia, a confiança e a sensação de segurança que só se têm quando o Espírito está presente. Precisamos olhar mais e melhor para perguntas difíceis e respostas diretas, mas sem passar da inocência extrema para o ceticismo extremo.
O mundo de hoje está cheio de céticos inveterados que adoram “iluminar” aqueles que estão presos à simplicidade idealista, oferecendo-lhes a dúvida e o agnosticismo da complexidade como um modo de vida novo e aparentemente corajoso.
Não devemos perder de vista o ideal, devemos continuar avançando para passar para a próxima etapa.
3. A simplicidade do outro lado da complexidade
Nesta fase, não só vemos o real e o ideal, mas nos apegamos a ambas as perspectivas, “com os olhos e o coração bem abertos”. Adquirimos uma perspectiva firme e informada, “que foi moldada e testada pelo tempo e pela experiência”.
Sabemos que não teremos as respostas para tudo e, portanto, antes de tirarmos nossas próprias conclusões ou suposições, utilizamos primeiro as ferramentas que já temos, tanto espirituais como intelectuais, o que os Hafen chamam de fé instruída ou informada.
“A escolha de acreditar nesta fase difere muito da obediência cega… É um tipo de obediência consciente e confiante. Em vez de pedir que deixemos de lado as ferramentas de uma mente educada e crítica, essa atitude nos convida a usar essas ferramentas, junto com nossa confiança no ideal, para poder melhorar a situação atual, não apenas criticá-la.”
Isto, por exemplo, nos permite seguir os conselhos dos profetas e apóstolos embora nem sempre entendamos todas as suas razões, nos permite dar “ao Senhor e à Sua Igreja o benefício da dúvida para nossas perguntas sem resposta”.
Nossa fé não cresce e se molda em um único dia, ela segue um processo que requer paciência e muito esforço. Pode não ser um conhecimento perfeito, mas à medida que cresce pode “[expandir] nossos corações e iluminar nossas mentes até que se torne algo muito real para nós”.
O casal Hafen aconselha que, em meio a esses momentos de incerteza e dúvida, não devemos esquecer de continuar avançando “com os olhos da fé” até que um dia voltemos à presença do Senhor.
“Quando atingirmos a árvore da vida, não haverá mais espaço entre o real e o ideal. Teremos resolvido nossas complexidades através de um processo de refinamento difícil, mas cheio de fé, através do qual, em pura e sábia simplicidade, o real e o ideal se tornam um”.
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