Talvez o Natal não venha de uma loja

Este artigo é uma tradução de um discurso do Élder Jeffrey R. Holland, dado ao corpo docente de Instrução Religiosa na Universidade Brigham Young em 12 de dezembro de 1976.

Você deve se lembrar da história de “terror” do feriado do Dr. Suess, “Como o Grinch Roubou o Natal”, onde o diabólico Grinch decidiu roubar de Quemlândia tudo o que era relacionado àquele feriado.

Em um esquema nefasto em que o próprio Grinch se vestia de Papai Noel, ele foi até a cidade de Quemslândia e tirou cada pacote, árvore, enfeite e meia.
Então ele deixou a cidade, rindo consigo mesmo de alegria pela dor que terá causado a crianças como a pequena Cindy-Lou Who.
Quase mil metros de altura! Ao topo do Monte Crumpit,
Sua carga ele levou, e lá a descarregou!
Eles estão descobrindo agora que o Natal não chegou!
Devem estar acordando! Eu sei exatamente o que eles farão!
Suas bocas ficarão abertas um ou dois minutos
Então, todos os que estão em Quemlândia vão chorar, Buá… buá!
Isso é um barulho, sorriu o Grinch,
Eu preciso ouvir isso! Então ele fez uma pausa. E o Grinch levou a mão ao ouvido.
Então, o Grinch ouviu um som que da neve surgia.
Começara baixo. Mas agora crescia…
Mas o som não era triste!
Ora, parecia bem feliz!
Não podia ser assim!
Mas foi alegre! Muito!
Ele olhou para Quemlândia!
O Grinch abriu os olhos!
E então estremeceu!
O que ele viu foi uma surpresa chocante!
Cada Quem em Quemlândia, dos pequenos aos maiores,
Estava cantando! Mesmo sem nenhum presente!
Ele não impediu a chegada do Natal!
Ele chegou!
De uma forma ou de outra, ele chegou mesmo assim!
E o Grinch, com seus pés gelados de Grinch na neve,
Intrigado pensou: “Como pode ser?
Chegou sem fitas! Chegou sem laços!
Chegou sem pacotes, caixas ou sacos!”
E ele ficou intrigado por horas, até que sua cabeça doer.
Então o Grinch pensou em algo que não pensara antes!
“Talvez o Natal”, pensou ele, “não venha de uma loja”
“Talvez o Natal… quem sabe… tenha muito mais significado!”

(Dr. Suess, How the Grinch Stole Christmas, Nova York: Random House, 1957.)

Não havia lugar para eles na estalagem

Parte do propósito de contar a história do Natal é nos lembrar que o Natal não vem de uma loja.

Na verdade, por mais que nos sintamos encantados, mesmo quando crianças, a cada ano isso “é um pouco mais significativo”.

E não importa quantas vezes lemos o relato bíblico daquela noite em Belém, sempre voltamos com um pensamento, ou dois, que não tínhamos antes.

Há tantas lições a serem aprendidas do relato sagrado do nascimento de Cristo que sempre hesitamos em enfatizar uma em detrimento de todas as outras.

Perdoe-me enquanto eu faço exatamente isso no tempo que passamos juntos aqui.

Uma impressão que tem persistido em mim recentemente é que esta é uma história, em profundo paradoxo com nossos próprios tempos, que esta é uma história de extrema pobreza.

Eu me pergunto se Lucas não tinha um significado especial quando não escreveu “não havia lugar na estalagem”, mas especificamente que ““não havia lugar para eles na estalagem“. (Lucas 2:7)

Não podemos ter certeza, mas acredito que o dinheiro falasse tanto naquela época quanto na nossa.

Acredito que se Maria e José tivessem sido pessoas de influência ou posses, eles teriam encontrado alojamento mesmo durante aquela época do ano.

Me perguntei se a versão inspirada também sugeria que eles não conheciam as “pessoas certas” ao dizer: “não havia lugar para eles na estalagem” (Lucas 2:7).

Não podemos ter certeza do que o historiador pretendia, mas sabemos que esses dois eram desesperadamente pobres.

Na oferta de purificação que os pais fizeram após o nascimento da criança, uma rola foi substituída pelo cordeiro necessário, uma substituição que o Senhor havia permitido na Lei de Moisés para aliviar o fardo dos pobres (Levítico 12:8).

Ouro, incenso e mirra

Os sábios vieram depois trazendo presentes, acrescentando algum esplendor e riqueza a esta ocasião, mas é importante notar que eles vieram de longe, provavelmente da Pérsia, uma viagem de várias centenas de milhas no mínimo.

A menos que tenham começado muito antes do aparecimento da estrela, é altamente improvável que tenham chegado na noite do nascimento do bebê.

Na verdade, Mateus registra que, quando eles vieram, Jesus era “um menino” e a família morava em “uma casa” (Mateus 2:11).

Talvez essa informação forneça uma distinção importante que devemos lembrar em nosso feriado de Natal.

Talvez a compra, a confecção, o embrulho e a decoração – aquelas expressões generosas e importantes de nosso amor no Natal – devam ser separados, mesmo que apenas ligeiramente, dos momentos mais tranquilos e pessoais onde refletimos sobre o significado do bebê e seu nascimento.

Se não tivermos cuidado, os símbolos podem ser maiores do que seus significados. Em algum momento de nossas vidas, a manjedoura já foi substituída por uma loja de descontos que vende ofertas especiais de três por um em ouro, incenso e mirra.

Não me sinto – nem quero soar – como um Scrooge moderno. O ouro, o incenso e a mirra foram humildemente dados e recebidos com apreço, e assim devem ser, todos os anos e sempre.

Como minha esposa e meus filhos podem confirmar que ninguém fica mais feliz ao dar e receber presentes do que eu.

E por isso, eu, assim como você, preciso lembrar a cena muito simples, mesmo a pobreza, de uma noite desprovida de enfeites ou embrulhos ou mercadorias deste mundo.

Somente quando virmos aquele objeto único, sagrado e sem adornos de nossa devoção – o Bebê de Belém – saberemos porque “esta é uma época para se alegrar” e porque dar presentes é tão apropriado

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José

Como pai, recentemente comecei a pensar com mais frequência em José, aquele homem forte, quieto e quase desconhecido que foi mais digno do que qualquer outro mortal para ser o pai adotivo orientador do Filho de Deus vivo.

José foi escolhido entre todos os homens para ensinar Jesus a trabalhar. Foi José quem lhe ensinou os livros da lei.

Foi José quem o ajudou a começar a entender quem ele era e quem ele se tornaria.

Eu era um aluno da BYU, e estava terminando o meu primeiro ano de pós-graduação quando nosso primeiro filho, um menino, nasceu.

Éramos muito pobres, embora não tão pobres quanto Maria e José. Minha esposa e eu estudávamos, ambos tinham empregos e, além disso, trabalhávamos como residentes em um complexo de apartamentos fora do campus para ajudar a custear nosso aluguel.

Nós dirigíamos um pequeno Volkswagen que estava com a bateria meio descarregada porque não podíamos comprar um novo (um Volkswagen ou uma bateria).

No entanto, quando percebi que o nascimento do meu filho se aproximava, acredito que eu teria feito qualquer coisa honrosa neste mundo… para garantir que minha esposa tivesse os lençóis limpos, os utensílios esterilizados, enfermeiras atenciosas e os médicos qualificados param auxiliarem no nascimento do nosso filho primogênito.

Se ela ou aquela criança precisassem de cuidados especiais, acredito que teria resgatado minha própria vida para obtê-los.

Eu comparo esses sentimentos (que tive com cada filho) com o que José deve ter sentido enquanto caminhava pelas ruas de uma cidade que não era a sua, sem um amigo ou parente à vista, nem ninguém disposto a estender uma mão amiga.

Nas últimas e mais dolorosas horas de seu “confinamento”, Maria cavalgou ou caminhou aproximadamente 160 quilômetros de Nazaré na Galileia a Belém na Judéia.

Acredito que José chorou. Agora, sozinhos, eles tinham que ir a um estábulo, um lugar cheio de animais, para dar à luz ao Filho de Deus.

Me pergunto quais emoções José sentiu ao limpar o esterco e as sujeiras. Me pergunto se ele chorou enquanto tentava apressadamente encontrar a palha mais limpa e segurar os animais.

Eu me pergunto se ele se perguntou: “Poderia haver uma circunstância mais insalubre, mais exposta de doenças, mais desprezível em que uma criança pudesse nascer?

Aquele era um lugar adequado para um rei? Deve-se pedir à mãe do Filho de Deus que entre no vale da sombra da morte em um lugar tão imundo e desconhecido como este? É errado desejar a ela algum conforto? Ele deveria nascer aqui?”

Mas tenho certeza de que José não murmurou e Maria não chorou. Eles sabiam muito e fizeram o melhor que puderam.

Talvez aqueles pais já soubessem que, no início de sua vida mortal, assim como no final, esse bebê nascido deles teria que descer abaixo de todas as dores e decepções humanas. 

Maria

Também pensei em Maria, esta mulher mortal mais agraciada da história do mundo, que ainda muito jovem, recebeu um anjo que proferiu para ela as palavras que mudariam o curso não só de sua própria vida, mas também de toda a história da humanidade:

“Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres” (Lucas 1:28).

A natureza de seu espírito e a profundidade de sua preparação foram reveladas em uma resposta que mostra inocência e maturidade: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1:38).

É aqui que vacilo e compreendo os sentimentos que uma mãe tem quando sabe que concebeu uma alma viva, que sente a vida acelerar e crescer em seu ventre e dá a luz a um filho.

Nessas ocasiões, os pais ficam de lado e observam, mas as mães sentem e nunca esquecem. Mais uma vez, pensei na frase cuidadosa de Lucas sobre aquela noite sagrada em Belém:

Se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz.

E deu à luz seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.

“Já se cumpriram os dias em que ela deveria dar à luz. E ela deu à luz seu filho primogênito, e [ela] o envolveu em panos e [ela] o deitou em uma manjedoura” (Lucas 2:6-7).

Esses breves pronomes ecoam em nossos ouvidos, depois do próprio bebê, Maria é a figura principal, a rainha régia, mãe de mães – ela ocupa o centro do palco neste mais grandioso de todos momentos.

E esses mesmos pronomes também proclamam que, exceto por seu amado marido, ela estava muito sozinha.

Me pergunto se esta jovem, ao dar à luz seu primeiro filho, poderia ter desejado que sua mãe, ou uma tia, ou sua irmã, ou uma amiga, estivesse perto dela durante o trabalho de parto.

Certamente o nascimento de um filho como este deveria exigir a ajuda e atenção de todas as parteiras na Judéia!

Todos nós desejaríamos que alguém pudesse segurar sua mão, esfriar sua testa e, quando tudo terminasse, lhe dar descanso em linho limpo e fresco.

Mas não foi assim. Com apenas a ajuda inexperiente de José, ela própria deu à luz seu filho primogênito, envolveu-o nas pequenas roupas que ela tinha conscientemente trazido em sua jornada, e talvez o deitou em um travesseiro de feno.

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O infante

Então, em ambos os lados do véu, uma hoste celestial cantou:

“Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens” (Lucas 2:14). Mas, exceto pelas testemunhas celestiais, esses três estavam sozinhos: José, Maria e o bebê que se chamaria Jesus.

Neste ponto central de toda a história humana, um ponto iluminado por uma nova estrela no céu revelada para esse propósito, provavelmente nenhum outro mortal assistiu – ninguém, exceto um jovem e pobre carpinteiro, uma bela mãe virgem e os animais de um estábulo que não tinham o poder de expressar a santidade do que eles tinham visto.

Em breve chegariam os pastores e, mais tarde, os sábios do Oriente. Mais tarde, ainda, a memória daquela noite traria Papai Noel, Frosty e Rudolph – e todos seriam bem-vindos.

Mas antes e para sempre havia apenas uma pequena família, sem brinquedos, árvores ou enfeites. Apenas um bebê e foi assim que o Natal começou.

É por esse bebê que proclamamos em coro: “Eis dos anjos a harmonia, cantam glória ao novo Rei! … Cante o povo resgatado: Glória ao Príncipe da Paz, Pois o Cristo revelado, Vida e luz ao mundo traz” (Hinos, nº 132).

Jesus deve ter dito muitas vezes ao olhar nos olhos de quem O amava, “Se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 18:3).

O Natal, então, é para crianças, de todas as idades. Suponho que seja por isso que minha canção de natal favorita seja uma canção infantil. Eu canto com mais emoção do que qualquer outra:

“Jesus num presépio, sem berço nasceu,
Deitaram na palha o corpinho Seu.
Jesus, eu Te amo; com Teu meigo olhar,
Vem, guarda meu sono, meu terno sonhar.
Jesus, eu Te peço que veles por mim,
Amando-me sempre, guardando-me assim.
A toda criança vem dar proteção
E leva-nos todos a Tua mansão”
(Jesus num Presépio)

Então o Grinch pensou em algo que não pensara antes! “Talvez o Natal”, pensou ele, “não venha de uma loja”.

Fonte: The Church Of Jesus Christ of Latter-Day Saints

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